A recente sentença da Corte Suprema de Cassação, emitida em 14 de março de 2024, levantou questões importantes em matéria de violações tributárias e, em particular, sobre a configurabilidade do crime de declaração fraudulenta por meio do uso de faturas para operações inexistentes. Neste artigo, analisamos o conteúdo da sentença e suas implicações para as empresas envolvidas, com o objetivo de esclarecer alguns aspectos normativos e jurisprudenciais.
No caso em questão, A.A. e B.B., representantes legais da "C.C. E B.B. Snc", foram condenados pela Corte de Apelação de Cagliari por terem apresentado declarações fiscais contendo elementos passivos fictícios, utilizando faturas para operações inexistentes. A Corte confirmou a responsabilidade penal dos recorrentes, destacando que as faturas utilizadas para a compra de uvas foram emitidas a preços significativamente superiores aos de mercado.
O fato contestado não existe uma vez que as faturas não podem ser qualificadas como "faturas para operações inexistentes".
A Corte de Cassação, ao anular a sentença de apelação, sustentou que as faturas emitidas pela "Azienda Agricola A.A. E D.D." não podiam ser qualificadas como "faturas para operações inexistentes" pois as compras foram efetivamente realizadas, mesmo que a preços superiores aos de mercado. Este aspecto é crucial: a Cassação esclareceu que nem todas as operações com preços incongruentes configuram automaticamente uma violação penal. Na verdade, embora as faturas possam refletir um preço excessivo, isso não implica necessariamente que a operação não tenha sido realizada.
Esta sentença se insere em um debate mais amplo sobre a distinção entre planejamento fiscal legítimo e abuso do direito. A Corte chamou a jurisprudência, sublinhando que um contribuinte tem o direito de escolher a operação fiscalmente mais favorável, desde que não se configure como uma tentativa de fraude. Este princípio está consagrado no artigo 10-bis da lei n. 212 de 2000, que protege as escolhas de planejamento fiscal legítimo.
Em conclusão, a sentença da Cassação representa uma importante vitória para a certeza do direito e para a correta interpretação das normas fiscais. Ela esclarece que a mera incongruência dos preços não é suficiente para configurar um crime de declaração fraudulenta; ao contrário, é necessário considerar a real existência das operações e os direitos dos contribuintes de fazer escolhas fiscais dentro da legalidade. As empresas devem, portanto, prestar atenção à documentação de suas transações e à correta aplicação das normas fiscais, evitando cair em possíveis contestações por parte da Administração Tributária.